terça-feira, 1 de março de 2011

Curso de Leitura e Produção

Reportagem - Módulo 06

Escola Pública, ano 5.
(...)
Professora: Na semana passada, o trabalho foi feito em cima de quê?
Alunos: Manchete
Professora: Isso, manchete e... a gente ficou atento à manchete e ao olho da reportagem. Então hoje a gente vai ficar atento à inserção de vozes, a fala de alguém dentro da reportagem, sabendo que a reportagem não é a entrevista. Na reportagem, a gente tem resultados de entrevistas, depoimentos. Então, quando vocês estiverem lendo a reportagem hoje, vocês fiquem atentos a esses detalhes, certo? Então, eu vou ler uma reportagem pra vocês, que ela está dentro do suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo. Foi editada no dia 22. 10. 05. O título é “Meninas X Meninos”.
(A professora realiza a leitura da reportagem Meninas X meninos).
Professora: Agora, a pergunta é: quem foi que falou sobre o quê? Quem foi capaz de guardar o que foi dito sobre esse assunto? Antes de mais nada, que assunto é essa reportagem?
Alunos: Diferenças entre meninos e meninas.
Professora: Diferenças entre meninos e meninas. E existem diferenças?
Aluno: Existem, muitas, porque os meninos é muito brigão, meninos tem preconceitos com meninas, meninas tem com meninos.
Professora: Menina tem preconceito com menino e menino tem preconceito com menina?
Aluno: Mas nessa história tem uma menina que consegue jogar bola com os meninos.
Aluno: Mas os dois grupos agem com preconceitos.
Professora: Os dois grupos agem com preconceito?
Aluno: As meninas tem preconceito com os meninos.
Professora: E os meninos, não?
Aluno: Ela não brinca com os meninos porque os meninos criticam elas e porque não agüentam as brincadeiras deles. E diz que menina não pode brincar de brincadeira de menino e aí eles pegam e já que elas não podem brincar com eles, também não podem brincar com elas.
Professora: O que é que vocês acham disso?
Alunos: Eu acho que é porque quando o menino brinca, aí machuca a menina e é uma confusão.
Professora: E menina não machuca menino, não?
Aluno: É porque, assim... Os dois...
Professora: E aí? Tem diferença: menino e menina?
Aluno: Tem. Tem menina que quando vê que tá perdendo, vai pra cima da pessoa. A gente brinca de vez em quando. Aí a gente vai pro campo jogar bola, aí a minha mãe vai pra cima e a mãe dele também, aí minha mãe me segura e diz que é pra jogar também, aí me derruba e me joga no chão, aí as meninas tome a fazer gol, tome a fazer gol. Aí quando eu pego a bola, eu empato tudinho. Aí começa a dá-lhe rasteira, jogar no chão.
Professora: E o que vocês acham disso?
Alunos: Que futebol doido é esse que segura um e joga no chão?
Alunos: Tem que saber se é ele que perdeu...
Professora: Agora, deixa eu perguntar uma coisa pra vocês em relação a essa reportagem. Vocês concordam ou discordam do que essas pessoas que deram depoimento aqui falaram?
Alunos: Eu discordo.
Professora: Discorda de quem e por quê?
Alunos: Eu discordo porque eles não devem viver brigando.
Professora: Presta atenção à pergunta: você discorda do que as pessoas que deram depoimento aqui falaram? Aí você concorda ou você discorda do que foi dito? Leio novamente?
Alunos: Eu discordo, porque diz aí que as meninas, os meninos, ficam fazendo... Aí eu acho que não deve fazer isso. Os meninos também tem que saber perder. Não ficar brigando.
Alunos: Não, mas tem algumas meninas que são muito impliconas também. Peraí, nem tem tanta santinha, santinha assim, não.
Alunos: Eles colocam os negócios aí pra quem lê não fique desunido pra menina não reclamar com menino e o menino não reclamar com a menina e não ficar brigando um com outro.
Professora: Você pensa que essa reportagem foi escrita com o objetivo de levar as crianças a refletir sobre atitudes delas na hora da brincadeira? (...) Alguém pensa diferente? Vocês concordam com Amanda?
Alunos: Concordo, concordo.
Professora: Ok. É... Ficou aqui bem enfatizado que as meninas quando perdem vão bater nos meninos.
Alunos: É... Dá tapa nas costas, puxa o cabelo, dá chute, dá murro.
Alunos: Mas, as meninas... Teve umas meninas que disse que quando perde até canta uma musiquinha.
Alunos: Isso aí já é pra provocar.
Professora: Ah... Isso já é pra provocar.
Alunos: Éeee.
Alunos: Teve um dia que a gente tava na quadra, meninos contra meninas. Aí a gente fez gol, aí as meninas começaram a reclamar, aí deu um carrinho na pessoa deu-lhe chute.
Alunos: As meninas também não ficavam paradas, aí começava a briga.
Professora: Agora, deixa eu perguntar uma coisa: por que quando começou a partida não misturou menino e menina?
Alunos: Sei lá, porque deixaram meninos contra meninas.
Alunos: Oh tia, agora... Quando os meninos e as meninas jogarem bola, assim também tem que saber perder, porque depois, por exemplo, os meninos tem que saber perder o jogo. Não é sempre que a pessoa ganha, não.
Professora: Olhe, eu não queria que a gente fugisse da reportagem. A reportagem diz aqui que tem o grupinho do futebol e o grupinho da panelinha. Por que isso?
Alunos: Porque as meninas gostam de brincar com comidinha e os meninos gostam de brincar de futebol.
Professora: E é isso mesmo que acontece na realidade?
Alunos: É não. É porque as meninas gostam de brincar de boneca e os meninos gostam de correr.
Professora: Licença. Todos os meninos gostam de futebol?
Alunos: Não, nem todos
Professora: Todas as meninas gostam de panelinha?
Alunos: Não.
Alunos: Na minha rua, professora, os meninos tavam conversando com as meninas, tudo tranqüilo... De repente, os meninos ficavam arretando as meninas, ficavam dando murro pra cá e ficavam um jogando pedra no outro, vum,vum, vum. Aí, minha mãe me chamou pra tomar banho, aí quando eu fui, aí a menina jogou uma pedra e bateu na cabeça do meu irmão, aí eu disse: vem embora. Dei uma pisa nele e pronto.
(...)
Professora: Agora eu vou ler... Agora essa reportagem também foi impressa no suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo, sábado 18.11.2006, escrita por Patrícia Trucs da Veiga, Gabriela Romeu. A manchete: Preconceito, risque essa palavra do seu dicionário.
A professora realizou a leitura da reportagem “Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário”
Professora: De que tema fala essa reportagem?
Alunos: O racismo
Professora: O racismo?
Alunos: O racismo com os negros.
Professora: Quem foram as pessoas entrevistadas?
Alunos: Dizem os nomes das crianças.
Professora: Quem lembra o que cada um falou?
Alunos: Jéssica falou que o menino não queria sentar perto dela porque era negra e iria tingir ele.
Professora: O que Jéssica disse?
Alunos: Que o menino tinha que sentar perto dela. Aí ela sentava perto dele e ele cuspia e dava beliscão nela.
Professora: O menino não queria que ela sentasse perto dele, por quê?
Alunos: Não tingir ele. A outra, o menino chamava ela de bruxa por causa do cabelo dela.
Professora: Era um menino que dizia isso ou eram os meninos?
Alunos: Os meninos apelidavam ela de bruxa.
Professora: E o que Marco disse?
Alunos: Tiravam onda, e chamavam de Macaco Aurélio. Samuel disse que o colega dele disse pra ele sair da brincadeira porque ele era negro e ele ficou calado. Se fosse eu, tomava umas providências.
Professora: Que providências?
Alunos: Dá-lhe um pau. Eu chamava a ROCAM, meu véi.
Professora: Ok, vocês lembram de mais alguém?
Alunos: Não, lembro não.
Professora: Ok, então as perguntas aqui sobre o que o texto trata?
Alunos: O preconceito.
Professora: E quem são as pessoas? No depoimento, o que foi dito?
(Os alunos dizem os nomes e lêem o que aconteceu com cada um).
Professora: (...) Foram trazidas falas de depoimentos de pessoas sobre esse assunto. Aí eu pergunto a vocês agora. Isso aqui é a inserção das vozes na reportagem?
Alunos: Não.
Professora: Isso é o quê?
Alunos: Um relato.
Professora: Apenas isso? A gente pode considerar uma reportagem?
Alunos: Não, isso é metade entrevista, metade relato.
Professora: Agora, a inserção dessas vozes, ela é importante dentro da reportagem?
Alunos: É.
Professora: Por quê?
Alunos: Porque fala a pessoa que pode dizer, por exemplo, o que aconteceu com a senhora.
Professora: E o que a fala de alguém dentro da reportagem vai contribuir para reportagem? Qual é a contribuição dessa inserção de voz na reportagem?
Alunos: Vai dizer o que aconteceu e que a senhora mesma vai contar.
Professora: Vocês concordam com ela?
Aluno: Eu entendo que nessas falas aí, que no texto tá dizendo como fosse assim, ele tava procurando as pessoas que foram atingidas pelo preconceito e o racismo. Aí, pra dar na reportagem e pra completar a entrevista.
Professora: Olha a fala dele, ele está dizendo que os depoimentos completam a reportagem. Vocês concordam com isso?
Aluno: Concordo.
Professora: Então, quer dizer que essa inserção de vozes dentro da reportagem, a gente pode dizer que ela tem esses dois papéis: uma de dar legitimidade ao assunto e outra de dar uma contribuição para ilustrar a reportagem, aquele tema que tá sendo abordado? Sim ou não?
Aluno: Procurando as pessoas que foram atingidas e pela entrevista que completa o assunto.
(...)

Folhinha UOL - São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

MENINOS X MENINAS
Na escola ou nas brincadeiras, garotos e garotas ficam separados e reclamam uns dos outros

Cada um na sua turma

Daniel Kfouri/Folha Imagem

Meninos e meninas brincam de cabo-de-guerra em escola, em São Paulo

GABRIELA ROMEU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você já brincou de "menino-pega-menina"? O contrário, "menina-pega-menino", também vale. Esse antigo jogo de perseguição -um pega-pega em que garotos e garotas são rivais- retrata bem a disputa entre a turma do futebol e o time da panelinha. Na escola ou no condomínio, é comum ver meninos de um lado e meninas do outro. E, quando os dois grupos se encontram numa brincadeira, surgem as picuinhas: elas reclamam que eles "choram demais"; eles dizem que elas "só gostam de fofoca". Giovanna de Lolio, 7, prefere ficar com as meninas. "Não gosto de quando eles falam: "Vocês não podem brincar com esse brinquedo, é de menino'". E completa: "Acho que eles têm medo da gente". Mas nem toda garota gosta só de "coisa de menina". É assim com Ana Beatriz de Azevedo, a Nina, 9, que nem liga para boneca. "Prefiro brincar com os meninos, adoro futebol." Pedro Muarrek, 8, afirma: "Para uma garota, ela é boa jogadora". Lívia Mancini, 8, também joga futebol com os meninos, mas diz que não gosta nadinha de quando eles perdem. "Eles ficam chorando, sabe?" Daniela Huli, 8, emenda: "A gente não liga se perde e até canta a musiquinha: "Perdedor, mas com orgulho!'". Leonardo Assef de Melo, 7, rebate: "Mas as meninas ficam bem nervosas quando perdem na brincadeira". "E gostam de empurrar e bater durante a perseguição (ou 'menino-pega-menina')", lembra Vitor Miller, 8.


Folhinha UOL - São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

Educação
Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário
Não seja vítima nem vilã em uma história que quase nunca tem final feliz

Eduardo Knapp/Folha Imagem

Giovanna e Andressa se abraçam

PATRICIA TRUDES DA VEIGA
EDITORA DA FOLHINHA

GABRIELA ROMEU
DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe quando uma história é sussurrada no seu ouvido? Foi assim, meio em segredo, que crianças negras contaram para a Folhinha histórias de preconceito racial que viveram.

Elas só toparam falar sobre o assunto porque o combinado era não revelar a sua identidade. Assim, alguns nomes são de mentirinha, mas as histórias -infelizmente- são bem reais.
Mas você já deve estar perguntando: o que é preconceito racial? O menino Anderson, 9, descobriu o que significa essa palavra de uma maneira bem triste.
"A primeira vez que ouvi essa palavra, preconceito, foi quando minha mãe ficou indignada porque contei que só usava o elevador de serviço." Por quê? "As pessoas diziam que negro não podia usar o elevador social", conta. "Aí ela me ensinou a dizer que eu tenho os mesmos direitos."

Ana, 13, vive faltando na escola. Sempre dá uma desculpa para não freqüentar as aulas, pois está chateada com as piadinhas de alguns meninos. "Ficam falando que sou uma bruxa por causa do meu cabelo", diz.
Às vezes, o preconceito começa no caminho da escola. Marco Aurélio, 11, conta que alguns colegas faziam piadas preconceituosas com o seu nome. "Diziam que meu nome era "Macaco Aurélio'", afirma.

Já Jéssica, 7, era beliscada e cuspida por um colega da perua. O menino dizia que ela não podia sentar ao seu lado porque iria "tingir seu corpo", por ser negra.

Samuel, 10, também sofre com o preconceito racial de outras crianças. "Uma vez, na escola, um menino branco mandou eu sair da brincadeira porque eu sou negro. E falou: "Aqui só tem branco, você não pode brincar aqui'." Samuel não disse nada. "Só saí de perto."

Silêncio
O silêncio não é a melhor solução, ensina Eliane Cavalleiro, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.
"Geralmente, a criança negra vive essa dor sozinha, porém deve pedir ajuda aos professores e aos pais. Ela também pode alertar o colega de que ele está sendo racista ou preconceituoso. E que racismo é um crime."

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