sábado, 30 de outubro de 2010

Pomba Colomba
Sylvia Orthof
Ilustrações: Sonia Maria de Souza
Editora: Ática

Pomba Colomba estava arrumando a casa: varreu um canto, varreu outro canto, espanou a poeira. Aí, Pomba Colomba foi regar a roseira do quintal. Abriu a porta e achou uma cesta.
De dentro da cesta, saía um soluço triste. Era uma carta, que chorava baixinho:
- Ai, ai, ai!
Pomba Colomba tirou a carta da cesta, dizendo:
- Será que eu vou saber cuidar de uma carta abandonada?
A carta de nervoso, chorou mais alto:
- Ai, ai, ai, ui, ui, ui!
Pomba Colomba embalou a carta e cantou uma cantiga pra ela. A carta parou um pouco de chorar. Depois, voltou ao berreiro:
- Ai, ai, ai, ui, ui, ui, ai, ai, ai!
- O que foi que aconteceu com você, carta chorona? - perguntou Pomba Colomba.
A carta respondeu:
- Sou uma carta de amor, que quer chegar, mas não sabe o endereço.
- E o que posso fazer por você? – perguntou Pomba Colomba.
Pela primeira vez, a carta falou explicadinho: - Eu sou uma carta de amor, eu quero chegar... ai, ai, ai!..., mas não sei o endereço! Fui escrita por ele... que está apaixonado por ela...
Ele escreveu, assinou, mas não sabia o endereço. Me leva, me ajuda Pomba Colomba?
A pomba pensou, ficando num pé só... não adiantou. A pomba pensou, virada de cabeça pra baixo... não adiantou.
- Como você não sabe o endereço, nem eu, vai ser difícil... Vou levar você pra quem? – perguntou Pomba Colomba.
- Pra ela! Pra ela! – berrou a carta, toda amassada, de tanto nervoso. – Você me leva, e eu vou olhando... Quando a gente se encontrar com ela, eu aviso!
- E como é o nome dela? – perguntou nervosa Pomba Colomba, perdendo três penas de uma só vez. – O nome dela é “Meu Amor”! – gritou a carta, pulando de desespero.
Aí a pomba agarrou a carta, abriu as asas e resolveu virar pomba-correio a tal de “Meu amor”. A pomba voou, voou. Passou por um palácio todo cercado de goiabeiras. No Jardim do palácio, tinha uma princesa.
- É ela a tal de “Meu Amor”? – perguntou a pomba. – Não! Esta carta não tem nada a ver com goiabas ou princesas! – gemeu a carta.
A pomba continuou a voar, a voar. Passou por uma pastora.
- E ela? – perguntou a pomba.
- Não – respondeu a carta. E a pomba continuou voando, voando.
Passou um bicho com cara de onça, rabo de onça, pata de onça. Só podia ser onça... e era.
- É ela! – berrou a carta.
A pomba perguntou assustada: - Mas o “Meu Amor” da carta é uma onça?
- É. Foi o onço que escreveu pra onça! – disse a carta.
- Morro de medo de onça! Vou largar você daqui mesmo!- disse a pomba.
A carta começou a chorar, dizendo:
-Não me largue do alto! Eu posso ser levada pelo vento e me perder! Não me largue do alto...
-Posso cair lá longe, dentro da boca de um jacaré... Me entregue lá embaixo, direto para a onça! Pomba Colomba voando em círculos, olhava pra onça que olhava pra pomba e lambia os beiços.
Quando a pomba viu a língua da onça, teve um arrepio de medo e voltou voando, depressa, depressa, com a carta no bico.
De longe, a pomba ainda ouviu a onça dizer:
-G r r r r r r!
-Credo! Se eu soubesse que a carta era pra uma onçona dessas, cruz eu não tinha viajado! E pensar que perdi um dia inteiro por causa desta maluca! – disse a pomba.
E a carta acabou de novo na casa da pomba, chorando. Chorou durante uma semana inteirinha:
-Ai, ai, ai, quem me leva? Ui, ui, ui!
Aí a pomba resolveu: pegou um selo, colou bem calado na cara da carta e falou:
-Vai pelo correio, sua chata!

Um comentário:

  1. adoro ,pois presenciei a Claudia Miranda contando e explicando as marcas do texto, num encontro no Sesi Juiz de Fora Mg,quando apresentou os livros didáticos.gostaria de participar novamente!

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